Cada vez mais os leakers são players de grande importância antes do lançamento de novos produtos, pois captam o sentimento do público das empresas que têm seus produtos vazados.
Para começar, vamos definir o que é um leaker: em uma tradução direta, o dicionário Collins define um leaker como uma pessoa que deixa outras pessoas terem conhecimento de informações secretas.
A Apple é uma das maiores empresas do mundo, tanto de capital, empregando milhares de funcionários diretos e muitos outros indiretos, se levarmos em conta os seus fornecedores e cadeia de produção tanto dentro quanto fora dos EUA. Ser uma empresa de grande porte, conhecida, respeitada, e referência no mercado, faz com que seus produtos sejam alvo de espionagem industrial e, evidentemente, cópia. Guardar a sete chaves as features que fazem de seu produto o diferencial no mercado, é uma ação que muitas vezes se torna praticamente impossível de ser feita e, quem tem acesso a essas informações antes do lançamento do produto, acaba — se souber usá-las — tendo uma mina de ouro nas mãos.
Mas será que um vazamento de informações é um movimento que acontece sem o consentimento da empresa?
E é aí que entra a figura do leaker.
Atualmente, é difícil desassociar um leaker a um "analista de mercado" voltado a uma estratégia de marketing agressiva, pois as taxas de acertos de certos famosos leakers, citando dois dos mais badalados deles, Ming-Chi Kuo e Jon Prosser, são realmente muito altas.
Mas, como acertam tanto?
Certamente suas fontes são internas, diretamente da empresa de Cupertino que, mesmo tomando todas as medidas para que isso não aconteça, inclusive enviando cartas de aviso aos leakers provenientes de seus polposos e vultosos escritórios de advogados, as informações sobre os produtos a serem lançados, vazam.
E aqui cabe uma reflexão: seriam esses vazamentos ocasionados sem o conhecimento da empresa?
Minha opinião: um definitivo NÃO.
É fato que as empresas criam features e projetos, registram suas patentes, e muitas vezes esses itens nunca veem a luz do dia, mas servem como um prato cheio aos leakers. As patentes, depois de registradas, ficam disponíveis para consulta por qualquer pessoa e, obviamente, servem de, digamos, "inspiração", para aqueles que gostariam de escrever "um furo de jornalismo". Mas existem várias metodologias no mercado para avaliação de produtos e testes de lançamento, que efetivamente fazem pesquisa e análise de mercado.
Acredito firmemente que os leakers são "plantados" pelas empresas, e que seus anúncios sejam utilizados como dados a serem imputados em ferramentas de análise como um gigantesco CRM (Customer Relationship Management), uma metodologia que registra e organiza todos os contatos que um consumidor tem com uma empresa, permitindo que elas construam um relacionamento duradouro com seus clientes e possam oferecer a melhor experiência aos seus consumidores durante todo o processo de venda e, também, de uso.
Isso não soa muito familiar com o mote de certa empresa que tem um logo de uma maçã mordida?
Ao utilizar a figura dos leakers, a empresa tem praticamente toda uma base de fãs opinando de maneiras direta e indireta sobre as features que a empresa pretende lançar em seus novos produtos. Como um exemplo, o iPhone dobrável, quando a informação foi vazada, vários foram os sentimentos daqueles que são clientes assíduos da Apple, com uma certa vantagem desfavorável ao lançamento de tal produto, muito pela comparação com os celulares dobráveis da Motorola e Samsung. E, magicamente, o tão esperado iPhone dobrável, por ora, não tem uma previsão de lançamento — e muito menos sabe-se se será lançado. E quem aqui não se lembra do "esquecimento" de Steve Jobs de seu — ainda não lançado à época — iPhone 4 em uma mesa de bar? Seria Steve Jobs o primeiro leaker da história da empresa da maçã?
É uma jogada muito inteligente soltar uma informação para que ela seja vazada num "furo de jornalismo" e colher os resultados dessa legião de fãs, do que criar uma enquete e esperar que os números sejam absolutos e não relativos. Utilizando um leaker famoso, abre-se o leque de opções regionais, talvez até globais, e a decisão de lançamento — ou não — de algum produto ou serviço, torna-se mais assertivo, pois o número de interações aumenta consideravelmente.
Em um mundo onde a informação vale muito dinheiro, não me causaria surpresa que os leakers sejam apenas mais um player no mundo das estatísticas e análises de mercado, sendo "plantados" pelas empresas, para fazer uma enorme pesquisa, fazendo com que um lançamento de produto, que não é barato, diga-se de passagem, seja factível e que tenha um retorno financeiro de curto prazo.
Embora Adam Smith disse, certa vez, que "o consumo é a única finalidade e o único propósito de toda produção", sem uma análise de mercado, sem o apoio de seus clientes e sem a felicidade dos usuários de seus produtos, as empresas não conseguiriam se manter, pois o mercado é voraz e aquela que parar no tempo, muito provavelmente acabará por ser engolida pelos seus concorrentes.
20/07/2021 - 10h
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