Apple teria cogitado lançar serviço de internet via satélite em parceria com a Boeing, segundo o The Information
- Eduardo Galiani
- 8 de jun.
- 3 min de leitura
Empresa testou projeto ambicioso entre 2015 e 2016, mas preocupações com custos e relações com operadoras teriam levado ao cancelamento; recursos de satélite no iPhone seguem sem cobrança até setembro de 2025, segundo o site.

A Apple supostamente avaliou, durante vários anos, a criação de um serviço próprio de internet via satélite para uso residencial e em iPhones, de forma semelhante ao oferecido atualmente pela Starlink, da SpaceX. As informações foram divulgadas pelo site The Information, que teve acesso a fontes e documentos relacionados ao projeto, apelidado internamente de Projeto Eagle.
De acordo com a reportagem, a iniciativa teria começado em 2015, em parceria com a Boeing, e previa o lançamento de milhares de satélites para fornecer conexão direta à internet, tanto para dispositivos móveis quanto para residências. Para isso, a Apple teria considerado vender antenas especiais, que os usuários poderiam instalar em janelas para distribuir o sinal dentro de casa.
A motivação por trás do projeto, segundo a apuração, seria a busca da Apple por reduzir sua dependência de operadoras de telefonia — vistas por executivos da empresa como “parceiros necessários, porém incômodos”. A estratégia se alinha a outras iniciativas semelhantes da Maçã, como o desenvolvimento de seus próprios chips Apple Silicon. A gigante de Cupertino teria investido cerca de US$ 36 milhões em testes do Projeto Eagle em uma instalação na Califórnia, sinalizando o interesse sério da companhia na viabilidade da tecnologia. No entanto, apesar do entusiasmo técnico, o projeto não avançou.
O cancelamento teria ocorrido em 2016, segundo fontes internas, por decisão do CEO Tim Cook. Entre os principais motivos estariam o alto custo da operação e a ausência de um modelo de negócios claro no curto prazo. Havia ainda preocupações com os possíveis impactos negativos na relação com grandes operadoras globais, que são fundamentais para a comercialização e funcionamento do iPhone em larga escala.
Após o fim do Projeto Eagle, a Apple teria continuado explorando possibilidades no setor de conectividade via satélite. Em 2018, teria mantido conversas com empresas como a OneWeb, mas os custos projetados, entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões, novamente esfriaram o entusiasmo.

Com os planos grandiosos deixados de lado, a empresa redirecionou seus esforços para algo mais prático: a conectividade emergencial via satélite. O resultado foi o recurso Emergency SOS via Satellite, lançado em 2022, que permite enviar mensagens em áreas sem sinal de celular — uma função considerada inovadora e útil em situações críticas.
Mesmo assim, o tema da conectividade por satélite ainda gera controvérsias. Em 2023, uma nova proposta teria sido feita para levar internet irrestrita a iPhones em áreas remotas, usando uma geração mais moderna de satélites. No entanto, essa ideia também teria sido barrada, por temores de impacto negativo junto às operadoras.
Atualmente, a Maçã continua oferecendo o recurso de emergência via satélite gratuitamente, com a gratuidade estendida até, pelo menos, setembro de 2025. A decisão de não cobrar usuários também teria um componente estratégico: a empresa tem receio de que a cobrança transforme legalmente a Apple em uma operadora de telecomunicações nos Estados Unidos, o que poderia obrigá-la, por exemplo, a incluir backdoors em serviços como o iMessage.
Ainda assim, o custo da operação não é trivial. A manutenção do serviço via satélite já existente, em parceria com a Globalstar, consome centenas de milhões de dólares por ano da Apple. Internamente, alguns executivos de alto escalão, como Craig Federighi (chefe de software) e Adrian Perica (desenvolvimento corporativo), já teriam defendido o fim da funcionalidade, apostando que a oferta por meio das próprias operadoras seria mais sustentável. Ex-funcionários envolvidos nos projetos também questionam a qualidade atual da rede Globalstar, considerada lenta e ultrapassada em comparação com a tecnologia oferecida pela Starlink. Segundo eles, essa diferença só deve se acentuar na próxima década.
Embora o Project Eagle nunca tenha chegado ao público, os bastidores revelam o interesse contínuo da Apple em romper barreiras tecnológicas e estratégicas. Mesmo com as dificuldades enfrentadas, a conectividade via satélite permanece como um campo em observação a ser reavaliado no futuro.
Fontes: MacRumors e 9to5Mac
8/6/2025 - 16h30
Comments